Cultura organizacional e fit cultural

Alex Tochetto
4 min readJun 5, 2023

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Diversas vezes fui desclassificado de processos seletivos onde a justificativa utilizada é que eu não teria fit com a cultura da empresa.

Preciso ser humilde e confessar que nunca pesquisei sobre o assunto, as questões relacionadas à cultura das empresas são vagas e cada empresa tem a sua. Eu conheço uma única empresa que deixa claro eu seu site quais aspectos fazem parte da cultura. Na época que fui desclassificado eu pesquisei sobre a empresa para clarear este sentimento de insegurança misturado com incapacidade por acreditar que não me encaixava em algum lugar. Isso me deixava mais frustrado e me tornava cada vez mais ignorante em não ir atrás.

Recentemente lendo o livro “Pergunte ao Desenvolvedor — Jeff Lawson” me deparei com um trecho que fez muito sentido diante de tudo que vi e percebi sobre o assunto que diz o seguinte:

Eu não quero ir ao trabalho para jogar pingue-pongue, tomar cerveja nem qualquer outro chamariz que muitas companhias usam para atrair recém-formados. O fato de não gostar dessas coisas não deveria significar que eu “não me caixo na cultura da empresa”. Eu não quero entrar na indústria de tecnologia só para me divertir, eu quer criar coisas incríveis e aprender com outros talentos.

Quando li estas frases aqueles pensamentos que passam na velocidade da luz pelo nosso inconsciente apenas me disse — são estas as palavras que eu gostaria muito de ter em mente a todo momento — pois, elas me representam em meus pensamentos quando o assunto é trabalho. Enfim, muita gente deve ter levado muito tempo para atingir tal maturidade e eu não precisava me cobrar tanto.

Confesso que depois da leitura eu parei para refletir sobre o assunto e retomei a busca por mais informações, fui conversar com quem é líder e desempenha este papel no dia a dia sem contar que compartilha suas vitórias e disponibiliza muito conteúdo riquíssimo para quem a segue, a Liz Alves. Nossas conversas vão sobre máquina de café aos assuntos de liderança e situações difíceis. Compartilhar é o melhor caminho, pois todo mundo aprende.

Uma das primeiras coisas que percebi e talvez as empresas não percebam é que, cultura não é somente o que é bonito, mas as vezes o que não é. Manter um gestor ruim que tem uma habilidade técnica invejável e as vezes insubstituível para a empresa, mas que manda muito mal em todas as habilidades comportamentais é a prova de que a empresa permite perpetuar tais comportamentos para sua cultura e que de fato isso não é legal, este ponto por pior que seja passa a se tornar parte da cultura organizacional. Este é um ponto que não é evidente e que com certeza não estaria no site da empresa. Muitas vezes os gestores nem percebem tal situação, pois estão ocupados com outras questões.

Dentro da área de tecnologia a qual eu me encaixo onde o home office é uma realidade e que aproxima pessoas de cidades, estados e até mesmo países diferentes deixa evidente a diferença cultural. Não é a cerveja, o pingue-pongue que vai fazer diferença, isso nunca foi e nunca deveria ser considerado cultural pela empresa.

A cultura organizacional deve ser pautada pelos valores que a empresa traz em seu DNA, muitas vezes fomentadas pelos donos como: ética, confiança, lealdade, altruismo, união, transparência, generosidade, etc. Lembra do caso acima que citei, não está vinculado a nenhum destes valores e reforça que não deveria fazer parte da cultura. Um candidato que não sabe os valores da empresa, pois não é divulgada por ela já é um belo indício de que o processo será um fracasso sem nem antes ter começado como diz a Liz:

Este é o anúncio do desastre.

A pessoa que está em busca de oportunidades já está em um momento vulnerável e não serei eu alguém que vai dizer que obrigatoriamente ela deveria escolher pelo local que de fato dê match com os seus valores, onde de fato ocorra o fit cultural. Como dito pela Liz:

É preciso observar a cultura do outro, as vezes queremos olhar para o o Google e copiar sem entender que cultura é quase que uma “nacionalidade”, cada um tem a sua.

Quais são meus reais valores como candidato? Será que eu estaria disposto a trabalhar em alguma empresa reconhecida por cometer assédio sexual contra funcionários? Ou que burla as leis de licitação para ganhar um processo licitatório e enriquecer? São estes meus valores?

Um ótimo exemplo que apareceu durante uma aula de inglês foi deste blog post, que acabou dando um pouco mais de credibilidade ao que eu tenho dito até aqui. Entre as 8 dicas na hora de comparar duas oportunidades de trabalho:

  1. A cultura do local de trabalho combina com você?
  2. Escolha um que dê match com seus valores.

Se a empresa não divulga informações sobre a sua cultura, como você vai saber se tem fit? Entender o seu momento e identificar se é o local apropriado é responsabilidade sua, a saúde mental e os valores são seus, nunca o contrário.

Portanto, cultura organizacional é a identidade da empresa, seus valores. Fit cultural é quando os meus valores cruzam com os valores da empresa. Assim e possível estabelecer um processo armonioso, sem surpresas, duradouro e sem desastres.

Outras referências:

Fit cultural

Guilherme Guimarães | Cultura Organizacional

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